Ana Caeiro Psicologia

Mente em Loop: quando pensamos demasiado

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Ana Caeiro

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Um resumo da palestra na Feira da Saúde e Bem-Estar

No dia 10 de outubro estive na Feira da Saúde e Bem-Estar, no Jardim Botânico da Ajuda, a falar sobre a nossa mente acelerada. Foi fundamental falar sobre o que é este conceito do overthinking. Pensar demais é quando o nosso pensamento é excessivo, num circuito fechado que se retroalimenta e que causa mal-estar e disfuncionalidade.

Se ontem te deitaste a pensar nas tarefas que tinhas para fazer hoje e acabaste a lembrar de uma conversa que tiveste em 2015, então este texto poderá ser interessante para ti.

É importante referir que pensar é bom, aliás pensar é fundamental e é aquilo que nos torna humanos. Precisamos de pensar para sermos criativos ou tomar decisões. É também o campo da imaginação e da criatividade. A questão é quando se torna patológico, ou seja, quando causa sofrimento e limita a pessoa no seu funcionamento.

A maior parte dos estudiosos desta área divide o overthinking em duas partes: a ruminação e a preocupação. A ruminação é quando ficamos presos ao passado, ou seja, ficamos com o nosso pensamento retido em relação a situações que já ocorreram. Já a preocupação remete para o futuro, onde o pensamento excessivo tem o seu palco.

Ainda assim, refira-se que este tema está muito associado à autoestima e à relação que temos connosco. Muitas vezes povoam pensamentos relacionados com a incapacidade, desvalor ou desamor. A autocrítica comanda e é alimentada através dos traços de perfeccionismo.

As emoções associadas ao pensar demais são várias: arrependimento, culpa, tristeza, frustração. Tudo isto pode levar a comportamentos de procrastinação ou de evitamento. Cria-se um circuito rápido que se autoalimenta: um pensamento negativo leva a uma emoção mais difícil e esta, por sua vez, leva a comportamentos evitantes. Estes comportamentos podem trazer mais emoções negativas e alimentar o loop dos pensamentos. E estes pensamentos podem também recair na dúvida, muito presente quando temos dificuldade em tomar decisões.

Nesta apresentação trouxe também alguns tipos de pensadores excessivos. Vamos ver cada um deles:

  • O catastrofista: esta é aquela pessoa que vive com catástrofes dentro da sua cabeça. Recorrentemente, pensa que uma tragédia poderá acontecer. Os pensamentos poderão ser relacionados consigo, com os outros ou com o mundo. Para deixar alguns exemplos, estes pensamentos podem ser: “será que vai haver um terramoto? E se alguém próximo morrer? E se eu morrer?”;
  • O analista: este pensador precisa de dados para poder tomar decisões, algo que, na realidade, tem muita dificuldade em fazer. Analisa e avalia tudo à sua volta para ter toda a informação e todos os detalhes para que possa seguir em frente. Esta é aquela pessoa que planeia todas as viagens em detalhe;
  • O revisor: esta pessoa fica a rever conversas e interações. Pensa demasiado em tudo aquilo que tem a ver com o seu lado social;
  • O controlador: aqui estamos virados para o futuro. Perdido na ansiedade, este indivíduo pretende controlar tudo o que vai acontecer.
  • O ruminador: o foco está no passado, em rever situações e decisões.

De seguida falámos um pouco sobre as consequências que este pensar demais tem sobre nós. Para além da procrastinação já referida, podemos recair num aumento do stress, da fadiga mental e ter bloqueios quando queremos tomar uma decisão. O sono também fica afetado assim como outros movimentos da vida. Pensar demais também está associado a perturbações de ansiedade, depressão, traços de personalidade de perfeccionismo e à síndrome do impostor.

Então, o que fazer? Uma das coisas que podemos fazer é desacelerar através do corpo. Podemos respirar, meditar, caminhar, estar em contacto com os nossos sentidos ou até mesmo fazer exercícios de mindfulness. Outra coisa que podemos fazer é, nas pequenas decisões, poder limitar o tempo que demoramos para as tomar. Também é importante observar o conteúdo dos pensamentos para perceber qual é o seu foco e trabalhar a partir daí. Em última instância nunca esquecer de recorrer a profissionais de saúde.

É fácil nos identificarmos com este tema do pensar demais. isto acontece porque, de facto, é natural pensarmos e repensarmos sobre algo. No entanto, o problema é quando isso é realmente demais. No mundo atual que vive em aceleração, onde num dia temos de fazer inúmeras tarefas, fica muito difícil de diminuir o pensamento porque é muito fácil para a mente ir atrás. Se imaginarmos que a nossa mente é um Ferrari ela, de facto, não foi feita para estar parada, no entanto, é importante percebermos como é que conseguimos tirar um pouco o pé do acelerador.

 

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