A relação entre psicólogo / psicoterapeuta e cliente é o coração do processo terapêutico. Mais do que técnicas específicas ou modelos teóricos, é a qualidade desta ligação que facilita a mudança, o alívio emocional e o crescimento pessoal. Entre os elementos mais importantes desta relação estão a validação e a compreensão — dois pilares que sustentam um espaço seguro, humano e transformador.
O que é validação?
Validar não significa concordar, incentivar comportamentos disfuncionais ou “passar a mão na cabeça”. A validação é o reconhecimento genuíno da experiência emocional do cliente — aquilo que ele sente, pensa ou viveu faz sentido dentro do seu contexto.
Quando um terapeuta valida, ele está a dizer, de forma implícita ou explícita:
“Eu vejo-te. Eu escuto-te. O que tu sentes importa.”
A validação pode ocorrer de várias formas, como por exemplo através do:
- Reconhecimento da emoção: “Imagino o quanto isso pode ter sido difícil para ti.”
- Nomeação do que está a acontecer: “Parece que estás a sentir medo e confusão ao mesmo tempo.”
- Compreensão do contexto: “Faz sentido que reajas assim depois daquilo que viveste.”
Esta atitude diminui a vergonha, reduz a autocrítica e traz alívio imediato, pois legitima a humanidade da pessoa.
Compreensão: muito além de interpretar
Compreender não é simplesmente explicar ou analisar o comportamento do cliente. É escutar com profundidade, captar mudanças subtis, perceber aquilo que não é dito e conectar-se com a experiência interna daquela pessoa.
A compreensão envolve:
- Atenção plena ao que o cliente expressa verbal e corporalmente;
- Curiosidade genuína, sem pressões nem julgamentos;
- Empatia que respeita a singularidade de cada pessoa;
- Capacidade de acompanhar o ritmo emocional do cliente.
Quando o cliente se sente compreendido, cria-se uma base sólida de confiança, que permite explorar temas sensíveis, histórias de dor e padrões que precisam de mudança.
Porque estes dois pilares são tão importantes?
A investigação demonstra repetidamente que a relação terapêutica é um dos maiores fatores de eficácia do tratamento — muitas vezes mais determinante do que o tipo de abordagem usada.
Validação e compreensão:
- Regulam o sistema nervoso: sentir-se visto diminui estados de hiperativação ou desligamento;
- Reduzem a sensação de isolamento: a pessoa percebe que não está sozinha na sua experiência;
- Facilitam a autoconsciência: quando alguém nos valida, temos espaço para pensar e sentir melhor;
- Promovem mudança: ao acolher a experiência atual, o cliente ganha segurança para explorar novos caminhos.
Validação não é indulgência; compreensão não é conivência
Parte do trabalho terapêutico inclui também desafiar, confrontar e ajudar o cliente a sair de ciclos que lhe fazem mal. Mas só é possível fazê-lo de forma eficaz quando primeiro existe validação e compreensão. Sem estes elementos, qualquer intervenção corre o risco de soar crítica, distante ou até invasiva.
É como preparar o solo antes de plantar: primeiro criamos segurança, depois incentivamos o crescimento.
No fundo, trata-se de humanidade
A relação terapêutica não é uma relação comum, mas é profundamente humana.
É um espaço onde:
- As emoções são acolhidas;
- As histórias ganham novas perspetivas;
- E a pessoa encontra – e muitas vezes pela primeira vez! – um lugar onde pode ser exatamente quem é.
Validação e compreensão não são “extras” da terapia; são o chão que sustenta todo o processo. São o que transforma a experiência de “falar com alguém” na possibilidade real de cura e transformação. E vão para além da empatia!
Foto de Toa Heftiba na Unsplash


